Casos em que futebolistas acabam por ser mais velhos do que os documentos oficiais indicam são surpreendentemente comuns. No centro de um desses escândalos encontra-se o Benfica.
De acordo com uma investigação do jornal *Público*, o ex-defesa dos encarnados Carlos Ponck tinha, na realidade, mais cinco anos do que aquilo que constava na sua documentação oficial. Inscrito na Federação Portuguesa de Futebol como Carlos dos Santos Rodrigues, sob o nome desportivo Ponck, o jogador aparecia registado como tendo nascido a 13 de janeiro de 1995. Contudo, os jornalistas tiveram acesso aos seus documentos verdadeiros, que revelaram que o atleta nascera afinal a 21 de outubro de 1990, com o nome de Carlos Israel Latina da Silva.
Curiosamente, em 2017, o então presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, tomou conhecimento da falsificação dos dados por parte do jogador africano, mas não tomou qualquer medida. Apenas um ano depois os encarnados venderam o futebolista cabo-verdiano ao Desportivo das Aves, por 1,2 milhões de euros.
Já em maio de 2025, Ponck foi detido pela polícia de Cabo Verde e acusado formalmente de falsificação documental.
Ao longo da sua carreira, Ponck representou clubes como o Farense, Benfica, Chaves, Aves e também o Moreirense.
# Escândalo no Benfica: Ex-jogador Carlos Ponck Acusado de Falsificar Idade e Documentos, e o Clube Foi Alertado
**Lisboa, 25 de setembro de 2025** – Um escândalo abala as estruturas do futebol português: Carlos Ponck, ex-defesa-central do Benfica, foi detido em Cabo Verde por falsificação de documentos, incluindo a sua data de nascimento. O que torna o caso ainda mais grave é a revelação de que Luís Filipe Vieira, antigo presidente do clube da Luz, foi avisado da suspeita em 2017 e optou por ignorar os alertas, considerando-os uma mera chantagem. A investigação do jornal *Público* expõe como o Benfica integrou um jogador com identidade falsa, gerando lucros na ordem dos milhões de euros, enquanto Ponck, cujo nome real é Carlos Israel Latina da Silva, terá mentido sobre a sua idade para prolongar a carreira.
O caso veio a público há poucos dias, reacendendo debates sobre ética no futebol e a responsabilidade dos clubes na verificação de documentos de atletas estrangeiros. Ponck, internacional cabo-verdiano com 22 jogos pela seleção do seu país, declarou nascer a 13 de janeiro de 1995, o que o colocaria com 30 anos. No entanto, documentos oficiais cabo-verdianos comprovam que nasceu a 21 de outubro de 1990, fazendo-o ter atualmente 34 anos – quase 35. Esta discrepância de quase cinco anos permitiu-lhe ser considerado um “jovem talento” quando chegou a Portugal, beneficiando de contratos mais vantajosos e oportunidades em equipas de formação.
A cronologia dos eventos é reveladora. Ponck destacou-se no Farense, em Faro, na temporada 2014/15, onde jogou como central promissor. Em 2015, o Benfica contratou-o por uma módica quantia, apostando no seu potencial. Nunca se estreou pela equipa principal dos encarnados, mas foi integrado na estrutura, sendo cedido ao Desportivo das Aves em 2017. Foi precisamente em setembro desse ano que o alerta chegou ao topo da hierarquia benfiquista. Um grupo de empresários e intermediários contactou Luís Filipe Vieira, apresentando provas de que Ponck havia falsificado não só a data de nascimento, mas também o nome completo. “Era uma chantagem”, teria reagido Vieira, segundo fontes próximas ao caso, recusando-se a investigar mais a fundo.

Apesar do aviso, o Benfica prosseguiu com o negócio. Em 2018, vendeu 50% do passe de Ponck ao Aves por 1,2 milhões de euros – um valor que, à luz da falsificação, parece irrisório para um jogador de 28 anos disfarçado de 23. O Aves, então na I Liga, integrou-o na equipa principal, onde Ponck se afirmou como titular sólido. A sua passagem pelo clube avense durou apenas mais um ano, mas rendeu frutos: em 2019, transferiu-se para o Istambul Basaksehir, da Turquia, por 1 milhão de euros. Parte desse montante serviu para liquidar a dívida com o Benfica, enquanto o Aves embolsou 200 mil euros pela intermediação, conforme cláusula contratual. Este esquema gerou lucros para todos os envolvidos, exceto para a verdade desportiva.
O regresso de Ponck a Portugal em 2022 reacendeu a sua carreira no campeonato nacional. Jogou pelo GD Chaves na temporada 2022/23, ajudando a equipa a manter-se na Primeira Liga, e depois pelo Moreirense, onde disputou 25 jogos. Em janeiro de 2025, rumou ao Hapoel Beer Sheva, de Israel, mas a sua trajetória foi interrompida abruptamente a 8 de maio, no aeroporto da Praia, em Cabo Verde. As autoridades cabo-verdianas detiveram-no por falsificação e alteração de documentos, uso de registos falsos e atribuição de falsa identidade – crimes em co-autoria com familiares e intermediários. Ponck foi libertado mediante caução, mas está obrigado a apresentações periódicas às autoridades e proibido de entrar em Portugal, o que o impede de regressar ao futebol europeu por agora.
O envolvimento do Benfica no caso levanta sérias questões éticas e legais. Luís Filipe Vieira, que deixou a presidência em 2022 sob acusações de corrupção noutras frentes (como o caso dos emails e as plusvalias fictícias), foi confrontado pelo *Público*. Remeteu as explicações para o departamento jurídico do clube, onde Célia Falé, assessora jurídica, negou qualquer envolvimento pessoal no negócio com Ponck. “Não há registo de irregularidades na altura”, afirmou uma fonte do Benfica, que recusa comentar o caso em profundidade para não interferir na justiça cabo-verdiana. No entanto, o silêncio do clube contrasta com a sua política de zero tolerância a irregularidades, proclamada em comunicados oficiais.
Especialistas em direito desportivo veem neste episódio um padrão preocupante. “A falsificação de idades é um flagelo no futebol africano, mas os clubes europeus têm a obrigação de verificar documentos com rigor”, explica João Silva, advogado especializado em transferências internacionais. “O Benfica, como um dos maiores clubes da Europa, falhou duplamente: ao ignorar o alerta e ao lucrar com um jogador ‘rejuvenescido’.” O caso remete para outros escândalos semelhantes, como o de Alamara Djabi, outra promessa da formação benfiquista, que em 2019 entrou em Portugal com 13 anos nos documentos, mas que na realidade tinha 19. Djabi, guineense, beneficiou de inscrição na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) graças a essa alteração, que lhe permitiu jogar em escalões de juniores.
A FPF e a UEFA, alertadas pelo caso Ponck, anunciaram revisões aos protocolos de verificação de idades para atletas de fora da União Europeia. “Vamos reforçar as exigências de testes de idade óssea e cruzamentos com registos internacionais”, declarou um porta-voz da UEFA. Em Portugal, o Ministério Público pode abrir inquérito se houver indícios de conivência por parte de clubes, embora até agora não haja movimentações. Para os adeptos benfiquistas, o timing é infeliz: com o clube a disputar a Liga dos Campeões esta temporada, o escândalo mancha a imagem de uma instituição que se orgulha de valores como integridade e transparência.
Carlos Ponck, por seu turno, mantém-se em silêncio através do seu agente. “Ele é vítima de um sistema que explora jovens talentos africanos”, defendeu o representante, sem entrar em pormenores. Aos 34 anos reais, o central cabo-verdiano vê a carreira em risco: clubes europeus hesitam em contratar jogadores com passaporte judicial, e a proibição de entrada em Portugal limita opções. Enquanto isso, em Cabo Verde, o processo judicial avança, com possíveis penas de até cinco anos de prisão por falsificação.

Este caso não é isolado no universo benfiquista. Recordemos Catió Baldé, scout do clube acusado em 2020 de corrupção passiva por supostamente pagar 20 mil euros a um intermediário para facilitar transferências de talentos guineenses – muitos dos quais com idades duvidosas. Baldé, que ajudou a trazer Djabi, foi absolvido, mas o padrão persiste: o Benfica, ávido por jovens promissores a baixo custo, por vezes fecha os olhos a irregularidades que maximizam plusvalias.
A reação nas redes sociais é feroz. No X (antigo Twitter), hashtags como #PonckScandal e #BenficaMente explodem, com adeptos rivais a acusar os encarnados de hipocrisia. “Vieira construiu um império sobre mentiras”, escreveu um utilizador influente, ecoando o descontentamento de quem vê no caso um sintoma de males maiores no futebol português.
Rui Costa, atual presidente do Benfica, prometeu uma auditoria interna aos processos de recrutamento de 2015-2018. “O clube repudia qualquer forma de fraude e cooperará com as autoridades”, disse em comunicado. Mas para muitos, é tarde: o dano à reputação é irreversível, e o legado de Vieira, já manchado, afunda-se mais.
Em suma, o caso Ponck expõe as fragilidades do sistema de transferências no futebol: ambição desmedida, laxismo regulatório e, por vezes, cumplicidade silenciosa. Enquanto Ponck luta pela sua liberdade em Cabo Verde, o Benfica enfrenta um julgamento público que pode custar mais do que euros – custará a confiança dos seus adeptos. A bola está agora do lado da justiça, e cabe-lhe ditar o apito final.



